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30/08/2024 às 08:00•2 min de leituraAtualizado em 30/08/2024 às 08:00
O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um distúrbio neuropsiquiátrico prevalente, caracterizado por desatenção, hiperatividade e impulsividade persistentes, com impactos significativos no funcionamento do indivíduo. O aumento do uso das redes sociais levanta questões sobre a possibilidade de alguns sintomas comportamentais serem consequência da exposição prolongada a essas plataformas, em vez de um transtorno de base.
Nesta coluna, quero discutir as distinções entre o TDAH e os transtornos comportamentais emergentes associados ao uso excessivo das redes sociais, explorando evidências científicas para um diagnóstico diferencial adequado.
O TDAH é reconhecido como um transtorno com base neurobiológica, com estudos identificando anormalidades em regiões cerebrais ligadas ao controle da atenção e impulsividade. A herdabilidade é alta, com estudos de gêmeos sugerindo forte influência genética. O diagnóstico é clínico, baseado em critérios do DSM-5, que exigem a presença de sintomas em múltiplos contextos por um período mínimo, com início antes dos 12 anos.
O uso das redes sociais tem sido associado a alterações no comportamento e cognição, incluindo redução da atenção sustentada e aumento da impulsividade. Estudos indicam que o uso excessivo pode levar a sintomas que mimetizam o TDAH, como dificuldade de concentração e busca por recompensas digitais. No entanto, diferentemente do TDAH, esses sintomas podem ser uma resposta adaptativa ao ambiente digital, e não uma disfunção neurobiológica.
A distinção entre TDAH e transtornos derivados do uso excessivo das redes sociais é crucial. No TDAH, os sintomas são pervasivos e consistentes ao longo do tempo e em diferentes contextos. Já os sintomas associados às redes sociais tendem a ser situacionais e podem variar com o uso das plataformas.
Estudos de neuroimagem sugerem que, enquanto o TDAH está associado a uma disfunção persistente em circuitos cerebrais, os transtornos relacionados às redes sociais podem refletir mudanças temporárias na ativação de sistemas de recompensa em resposta à exposição digital. Além disso, intervenções que reduzem o tempo de uso das redes sociais frequentemente resultam em diminuição dos sintomas, o que não é observado em casos de TDAH, onde intervenção farmacológica e psicoterapêutica são necessárias.
Nosso cérebro possui uma plasticidade notável, capaz de se adaptar e se remodelar em resposta a experiências, tanto positivas quanto negativas. O uso excessivo das redes sociais pode influenciar essa plasticidade de forma prejudicial, alterando a estrutura cerebral e desencadeando transtornos mentais derivados da ansiedade, que podem ter consequências duradouras.
TDAH e transtornos comportamentais derivados do uso excessivo das redes sociais podem compartilhar sintomas, mas suas etiologias e dinâmicas diferem. O aumento nos diagnósticos de TDAH pode refletir, em parte, uma confusão com comportamentos induzidos pelo uso intenso das redes sociais. Para evitar diagnósticos imprecisos, é fundamental uma avaliação abrangente que considere o contexto de uso das redes sociais e a persistência dos sintomas. A diferenciação precisa melhora a acurácia diagnóstica e direciona intervenções mais eficazes.